Computação Verde
Fichamento por: Matheus Henrique | Núcleo Temático de Educação Ambiental Interdisciplinar, 2021.2
Atualmente, as discussões sobre as políticas de descarte de resíduos estão se tornando uma questão cada vez mais frequente na sociedade, pois o mau manuseio desses resíduos é um problema que afeta todo o mundo, tornando-se uma preocupação mundial. Um destes problemas é aumento desenfreado nos avanços da tecnologia, os avanços da produção e por conseguinte a substituição desses aparelhos por aparelhos mais velozes e com mais recursos, ocorrem de forma muito acelerada. Esses equipamentos, na grande maioria das vezes, são descartados de forma inadequada no lixo comum.
Portanto, devido ao ritmo acelerado na produção e descarte de produtos, juntamente com o grande consumo energético, é essencial a utilização eficiente destes recursos materiais e energéticos. Logo, a TI verde surgiu como uma proposta para solucionar estes problemas através do estudo e uso de recursos energéticos, computacionais ou materiais (produção) de forma eficiente. Pode-se citar, como exemplos de aplicações: A redução do consumo de eletricidade por parte de sistemas computacionais, a reformulação e implementação de novos processos de produção, descarte e reciclagem de componentes eletrônicos, regulamentações e métricas para sua produção, descarte e reutilização, ETC.
TI Verde no Brasil
Segundo uma pesquisa divulgada anualmente pela FGV em 2021, o Brasil contém cerca de 440 milhões de dispositivos digitais (computador, notebook, tablet e smartphone) em uso, que corresponde a cerca de 2 Dispositivos Digitais por habitantes. Esse número expressivo tem alta correlação com o impacto da pandemia, provocando em meses avanços no uso de TI que levaria anos para ocorrer, e esses resultados são confirmados pelas empresas e pela sociedade brasileira.
Com o aumento significativo de descarte eletrônicos no Brasil, o país viu a necessidade que o tema fosse devidamente regulamentado, alertando assim a sociedade sobre o problema e as consequências para o meio ambiente. Surge assim a lei federal n° 12.305 em 2 de agosto de 2010 , que busca tratar sobre a regularização do descarte de resíduos eletrônicos. A lei tem como objetivo evitar a presença de materiais pesados presentes em componentes eletrônicos, como mercúrio, cádmio, chumbo e afins, não permitindo que esses entrem em contato com solo. Está previsto na lei que as empresas tenham responsabilidade pelo ciclo de vida do produto, sendo necessário recolher e descartar em local adequado como aterros sanitários todos os lixos eletrônicos que criam ou utilizam.
Aplicações: Produção de equipamentos eletrônicos
Os hardwares que fazem parte da estrutura de inúmeros equipamentos utilizados no cotidiano normalmente são produzidos com materiais nocivos, como ouro, cobre, silício e vários outros que, como já bem sabemos, o seu descarte e manuseio inadequado podem prejudicar a natureza e também a vida humana. Durante a produção desses equipamentos, toneladas desses materiais são utilizados para a produção em larga escala, podendo ocorrer acidentes e descartes inadequados desse material.
Além disso, a velocidade de substituição desses equipamentos é muito alta devido à velocidade do avanço tecnológico e da demanda do mercado, o que significa que há um grande descarte desses equipamentos em pouco tempo, bem como a produção em alta escala do seu equipamento aprimorado. Portanto, é essencial que seja bem planejada tanto a produção desses equipamentos, quanto o seu descarte e reciclagem para minimizar os impactos ambientais e o desperdício de material. Algumas fábricas já utilizam novas tecnologias e mudanças no processo de produção a fim de permitir que o ciclo de vida do seu produto tenha o máximo de sustentabilidade possível, minimizando os impactos ambientais.
Como exemplo de uma das produtoras de equipamentos eletrônicos que adotaram essas práticas, pode-se citar a Intel que há anos removeu o chumbo da composição dos seus processadores, além de também ter criado metas, juntamente a outros fabricantes, para em 2030 alcançar a computação neutra em carbono, desenvolvendo computadores mais ecologicamente sustentáveis e eficientes, além de minimizar o impacto no meio ambiente durante sua produção.
Aplicação: Cloud Computing e Data Centers
Como a computação verde é a relação entre TI, meio ambiente e sustentabilidade, no que tange a utilização de forma eficiente dos recursos computacionais, temos a computação em nuvem verde, que tem como objetivo promover a reciclabilidade de produtos ou resíduos que não são dispensáveis pelas empresas, causando assim uma redução no uso de materiais degradados e maximizando a eficiência energética. A utilização da nuvem promove uma massiva redução do consumo de energia elétrica nas empresas ou provedores de serviços e também economia para seus respectivos clientes. A infraestrutura compartilhada e a escalabilidade proporcionam economias que se escalam aos Data Centers. Assim, a forma como as empresas tendem a gerenciar seus consumos de energia e também a estrutura sustentável de seus equipamentos é afetada pelo uso de Computação em Nuvem.
A aplicação de energias renováveis, aparecem como alternativa não somente relacionados aos impactos ambientais, diminuindo a emissão de gases, mas também com benefícios como a redução de custos no consumo de energia. Citando como exemplo, o Banco do Brasil, que utiliza menos poluentes nos geradores dos seus Data Centers, para que possam ter limitação de fuligem e utilização de biodiesel, fazendo assim a sua refrigeração através da água da chuva e com gases não agressivos. A Google também é um ótimo exemplo, pois a empresa fez um anúncio que as suas operações, desde Data-center até escritórios será somente com energias renováveis. A empresa já investe desde 2010 em projetos de energias renováveis, e entre 2017 e 2018 fez o maior investimento da Europa em energia renovável para Data Centers.
Aplicação: Descarte e Reciclagem de equipamentos eletrônicos no Brasil
O descarte e reciclagem geram reduções de insumos, redução de lixo eletrônico e aproveitamento dos componentes, bem como ajudam na imagem institucional. Apesar dos diversos benefícios, as aplicações inerentes ao descarte e reciclagem de resíduos eletrônicos (hardware) no Brasil não apresenta boa forma, tendo apenas sete cidades brasileiras ofertando o serviço de reciclagem. O Brasil tem a Green Eletron como maior gestora para logística de reversa para eletrônicos, que tem como objetivo auxiliar as empresas no atendimento à política nacional de resíduos sólidos, a lei 12.305 (GREEN ELETRON,2022). Mesmo assim, segundo a pesquisa de Resíduos eletrônicos no Brasil em 2021, apenas cerca de 3% dos eletrônicos descartados são reciclados no País (TOKARNIA, 2021). Assim, o Brasil apresenta um sistema defasado e falho com relação ao descarte e reciclagem de eletrônicos, principalmente pela falta de instrução a população com relação ao descarte e a falta de uma maior gama de serviços relacionados à reciclagem.
A computação verde também estuda e desenvolve técnicas para que o ciclo de vida de um produto seja sustentável, ou seja, tanto a sua produção quanto seu descarte e reuso são planejados para minimizar os desperdícios e impactos ambientais. Um desses exemplos é exposto na imagem abaixo, na qual é exibido um ciclo de decisões sobre o descarte e reciclagem de um produto eletrônico.